sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Não serei um cara da roupa verde!

Por Peter Kino
http://liebekino.blogspot.com/
peter.kinoo@gmail.com



"Todo mundo depois do poste". Foi a primeira ordem imbecil que recebi assim que cheguei lá. "To-do mun-do depois do pos-te", repetiu o soldado (ou o carinha com roupa de soldado) exaltando a voz. Fiquei esperando o "por favor" no final e pensando qual seria o problema ficar antes do poste. Já comecei a reparar o que me esperava por diante.
"Formem uma fila aqui". Todos se aglomeraram. "É pra formar uma fila, tá dificil?!". Fila formada. "Agora venham".
E foi mais ou menos assim até o final, formava fila e ia pra lá e pra cá como uma manada.

1° estapa foi ser identificado por número. Já comecei a me sentir humilhado.
"194", chama o rapaz atrás da parede de madeira. Um segundo depois, sem exagero. "UM NOVE QUATRO", grita. E eu já estava ao lado dele.
"Encosta!". Fiquei parado pois ja que aos olhos deles somos imbecis. Não sei obedecer ordens incompletas. "Encosta nessa parede ai, cara". Encostei. Eles olhou e anotou a minha altura, me pesei e disse quanto eu calçava. "Vai pra lá e fica ao lado do "173".

2° etapa: exame médico. Entrei em uma das cabines, e ela estava FEDORENTA. "NINGUÉM TIROU NOTA 10. NINGUÉM", exaltado o médico imbecil nos dizia. Enquanto ele não explicava sobre essa "nota 10" fiquei morrendo de medo de não ter passado por alguma etapa antes e caso fosse isso, imagina o que fariam comigo? Porrada na certa.
"SABE PORQUE?! NINGUÉM TIROU A ROUPA. É IMPRESSIONANTE, ESTOU AQUI A 2 MESES E ATÉ AGORA NENHUM GRUPO TIROU A ROUPA. O QUE É ESTÃO COM VERGONHA, MEDO?". Nãooo, imagina eu estou super confortável tendo que tirar a roupa assim aos berros. "QUERO TODO MUNDO PELADO, SEM ROUPA. PELADINHO, PELADINHO". Tirei toda a minha roupa, e ai foi o auge do desconforto, da vergonha, do ódio, da humilhação...
"VIRA PRA PAREDE". "VIRA PRA MIM". "COLOQUE A BOCA NO BRAÇO E ASSOPRE". "ALGUÉM COM ALGUMA DOENÇA?!". Logo levantei o braço. "O QUE?!". Rinite alérgica e Bronquite. "FAZ USO DE MEDICAMENTO?". Por enquanto não. E ai ele me ignorou, simplesmente fez uma cara de "Se não faz uso de medicamente, foda-se". "PODEM SE VESTIR". Em menos de 1 segundo eu sai dali. Queria ficar longe daquele Voyeur escroto.

3° etapa: teste imbecil. Fui sentar logo na primeira carteira. Ok, costume. "Quem aqui faz faculdade?". Levantei o braço. "De que?". Letras. "Vai ter que falar o português direitinho, porque eu sou professor, heim". Ai eu comigo, tudo bem, ele foi o primeiro carinha da roupa verde simpático. O tempo todo ele ficava me brincando comigo, perguntando se ele falou correto. Fiz aquele teste rídiculo.

4° etapa: a entrevista. Fui um dos últimos. Tinha 4 caras da roupa verde entrevistando. Creio que eram sargentos ou (carinha que usa a roupa verde por anos). "194", chamou.
"Você é árabe?!". Não. "Terrorista"?. Não *risadinha*. "Escolaridade..". Superior incompleto, to no primeiro período ainda. Quis dar enfase porque odeio dizer "superior incompleto" me sinto como se tivesse largado a faculdade..enfim. "Quer servir?". Claro que não. "Mas porque, cara?!". Nãoo, eu tenho mais o que fazer, estudar. Não mesmo. "Estado civil". Solteiro. "Tem namorada?". Não. "E namorado?". Também não, *pausa*, *risinho*. "Ham, com esse brinquinho ai, não sei não.". Pois é.

5° etapa esperar me chamarem pra não sei mais o que. "210", "145", "166", "105", 200", "134", "154"......
E aos poucos o lugar ia ficando vazio, os carinhas de verde, uns com boina preta e outros com a vermelha, iam fechando as janelas. "211", "108", "167", "224", "177"......E nada de sair o meu número.
Já não tinha mais ninguém além de mim e um garoto e os carinhas da roupa verde. Comecei a ficar realmente preocupado. 5 minutos depois, vem um novinho da roupa verde com o meu papel e o do garoto. "Bom, você sobraram......". Depois dai ele continuou falando, só que eu não conseguir prestar muita atenção porque EU SOBREI. COMO ASSIM, É ISSO MESMO?! Não vou precisar servir a esses otários? Servir a um país que não me dá 100% de orgulho?!

SOBREI feliz e satisfeito.

Um comentário:

  1. Quando eu fui me alistar foi bem mais prático. Fiquei pelado pro médico e ele perguntou "Tem doença?" "Não" "Quer servir?" "não" "Põe a roupa e vai lá fora jurar bandeira então". E pronto, voltei pra casa feliz (Não tão feliz pq não sabia que ônibus tomar pra votlar, então andei uma hora a pé).

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